'Sonhos anexados' (Ana Maria Carvalho, 2021) - PDF Flipbook

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Sonhos Anexados

Ana Maria Carvalho

SONHOS ANEXADOS

1

Ana Maria Carvalho

Sonhos Anexados
por Ana Maria Carvalho
(2021, oficina do conto: projecto final, 25 páginas)
Formadora: Carlota Gonçalves

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Sonhos Anexados

I

Miwa chegou três horas antes ao
aeroporto Humberto Delgado para embarcar
para Tóquio. Feliz, o seu livro fora apreciado
e vendera mais de 100 exemplares no
primeiro dia.No placard surgia anunciado
«voo cancelado». Dirigiu-se ao balcão e
recebeu a notícia de que, no Japão, ocorrera
um tsunami sendo destruída parte da cidade.

A Boya correu pela estrada de areia
procurando a serpente de que tanto gostava e
com quem tinha encontro todas as tardes às

3

Ana Maria Carvalho

18h. Chegou junto do imbondeiro e
assobiou. Mas, depois de algum tempo, a
Susie não apareceu. Era a primeira vez que
ela faltava. Os passos de Miwa, restolhando
na caruma da clareira alertaram Boya, que se
virou para encontrar com surpresa, a sua
amiga japonesa.

– Parece impossível! Tóquio, quase
aniquilado. E a minha casa, os meus livros…
Sim, a minha filha que navegava para
Shanghai… Estou sem forças…

– Estou ainda mais preocupada. A minha
Susie foi sempre pontual – disse, como, uma
criança de oito anos, na sua pueril
indiferença pela catástrofe – Se calhar foi
apanhada por algum caçador de peles.

– Tudo me parece um número de
ilusionismo. Improvisar neste momento é
coisa que está fora dos meus condões. A não

4

Sonhos Anexados

ser que... tenha dentro de mim a faculdade de
regressar no tempo. Miwa parou, como que
caindo pelo chão adentro. Retornada a si deu
um passo em frente. – Vamos até ao
imbondeiro. Podes assobiar para eu
aprender.

Boya assobiou.
– Vamos ver o que consigo: Miwa,
comprime os lábios emitindo um silvo
melódico.

Boya e Miwa lançaram assobios ao
vento vezes e vezes. Quando já se
preparavam para desistir, um rastejar.
– Susie, querida! Que alegria te reencontrar.
Sua macaca, pensei que não querias mais ir
ao mercado. Entra para o cesto que já
estamos atrasadas.

5

Ana Maria Carvalho

– Mas tudo mudou. Eu não quero ser mais o
animal de distração de turistas em busca de
sensações. Continuo a vir aos nossos
encontros pois és para mim aquela mãe que
me salvou das mãos do mulungu.
– Boya, agora que ficaste sem a esmola das
19h podes acompanhar-me a Tóquio e
recomeçar uma nova existência.
– Miwa, por favor, Tóquio está quase
destruída e tu falas em nova existência?
– Como pensas que encontraste a tua Susie?
Tenho dentro de mim aquela magia que
repõe tudo. Acredita e segue-me.
– Como explicar à Susie que não vai haver
mais carícias… Veio de Moçambique,
adaptou-se a Monsanto onde plantei este
imbondeiro para que se sinta integrada. –
Ouve, Susie, querida…

6

Sonhos Anexados

De repente, Susie enroscou-se e
mostrou a cabeça com a língua pendurada e
agitada. Fixou Boya, fazendo soa um
lânguido vagido...
– Como vês, Miwa, partir é deixar parte de
mim. Ficar é renunciar ao renovar. Preciso
de 24h para tomar a decisão certa. Podes
esperar?

No dia seguinte Boya acordou leve e
com um sorriso nos lábios. Ligou para a
amiga Miwa.

7

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8

Sonhos Anexados

II

Lara foi ao centro hípico ver como
estava a sua égua Felisberta. A puro-sangue
lusitano, branca de manchas castanhas
salpicadas, relinchava de alegria sempre que
ela chegava.

No caminho para o centro hípico
passou pelo lindo trilho ao longo da ribeira
das vinhas. Quintas bordam o leito. Ovelhas,
cabras pastam tranquilamente olhando o
agitado cidadão que vem descarregar o stress
correndo atrás da sombra.

9

Ana Maria Carvalho

Está uma manhã de sol o canto dos
pássaros invade-me a alma. Estou a aprender
a viver cada instante como se fosse o último.
Quando percebi que um minuto, que passa,
não regressa, já tinha cavalgado mais de 40
anos de vida. Sempre numa correria entre o
canto, yoga, caminhadas, lida da casa, filhos
e afetividade distribuída como sementes.
Ora, cada sementeira é imprevisível. Neste
caminhar sem tempo veem-me histórias
vividas, sonhadas outras inventadas. Assim,
quando escrevo não sei se é ficção,
realidade, improvisação. Mas sai de
rompante.

Nisto, avista do outro lado da ribeira
uma mulher franzina e os olhares cruzam-se.
– Diga é propriedade privada ou posso
atravessar?

10

Sonhos Anexados

Decido e atravesso o pequeno riacho.
Nunca me aventurei a passar para o outro
lado da ribeira. Aliás nunca ali vi ninguém.
– Sim, sou a dona. O meu nome é Boya. E o
seu?
– Lara. Dois nomes infrequentes!
– Para onde vai?
– Ao encontro da minha égua Felisberta.
– Há tanto tempo que não monto a cavalo!
– Venha daí. A minha guincha é uma doçura.
Vive sozinha?
– Sim, os meus pais ficaram por
Moçambique depois da independência. Eu
preferi vir pois a minha liberdade estava a ser
resfriada.
– Ouviu? A minha Felisberta já me sentiu.

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Ana Maria Carvalho

– Bonjour ma jolie. Regarde qui est là ?
Boya qui souhaite te chevaucher. Sois
charmante. Il y a belle lurette qu’elle ne l’a
pas fait1.

– Conheces o caminho que vai até à lagoa
azul? Quanto tempo pensas deambular?
Vamos dizer uma hora. Aguardo tenho
leitura. À plus2.

Sentada contra o tronco do freixo
amigo invade-me a nostalgia. Esta clausura
imposta pelo DIVOC 91 ilumina e esclarece.
Vou escacar. Há quanto tempo trota na
minha mente! Mas os ditames da razão
impediram o desaferrolhar!

“Envelhecer, qualquer animal é capaz.
Desenvolver-se é prerrogativa dos seres

1. _____________
1 Bom dia, linda. Olha quem aqui está? Boya que deseja cavalgar-te.
2. S1êBaommádveial., Hliándima.eOnslhoateqmuepmo qaquueieelastán?ãoBooyfaazq. ue deseja cavalgar-te.

22SAêAtatéémmmáavaieissl.vveHerrá.. imenso tempo que ela não o faz.

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Sonhos Anexados

humanos. Somente uns poucos reivindicam
esse direito». Citação de Osho (1931 - 1990)

Dois dias para urdir e reunir o
imprescindível.
– Então a Felisberta deu-te a liberdade que
espectavas? Neste espaço de tempo tomei
uma decisão! – Regresso de imediato a casa.
E tu Boya?
– Vou continuar a veranear. Até mais ver.

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Ana Maria Carvalho
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Sonhos Anexados

III

Entre Kyōto e Lisboa, Miwa arranja
tempo e disposição para conceber os Haikus.
Qual o processo? Quando caminha pela
natureza acontecem momentos que a
cativam. Ao pedalar deixa-se invadir pelos
aromas pela brisa. As nuvens em mutação
permanente sugerem: animais, emoções
abstratas ou concretas que se desenham por
palavras. Mas o que lhe dá mais adrenalina é
o sentar-se frente ao teclado e escolher uma
palavra, deixar a emoção subir lentamente.
Como se uma voz interior ditasse as frases.

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Ana Maria Carvalho

Por exemplo a palavra Lua. Escreveu o
Haiku

Lua crescente
Falaciosa ilusão
Quimera quiçá

No polo norte a lua é mentirosa! O
adivinhar das formas sugeridas pela lua
cheia fascina e inspira. Mas o quarto
crescente anuncia um novo apogeu. Desde a
adolescência que gosta de escrever. Os
múltiplos namorados ficaram com textos de
rutura, entrega, infantis. Sempre escreveu de
forma impulsiva e para temperar a sua
extrema vitalidade. Cabeça em permanente
viagem, necessidade de renovar paisagens,
pessoas, atividades. Por vezes não encontra

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Sonhos Anexados

o caminho certo de um percurso habitual,
pois vai no futuro ou ao passado e quando dá
por ela já está longe do destino! A energia
gasta nessas viagens virtuais poderia ser
mais frutuosamente utilizada. Sempre teve
um fascínio pelo Japão.

O passeio do filósofo em Kyõto, é o
seu preferido, e o mais inspirador na altura
da festa Hanami3. Os Japoneses deleitam-se
a contemplar as pétalas, sentir a fragância
das flores de cerejeira Sakura4. Celebra-se o
efémero da beleza e da vida! Este ano o
desabrochar das flores ignorou o cataclismo.
Espantosa natureza! Segue as leis e os ritmos
sem se incomodar se os humanos atravessam
um desafio sem precedente. O aumento da
temperatura média alterou os ecos sistemas,
mas teimosamente no país do sol nascente as

3. 3_C_e_r_e_je_ir_a_s_e_m__fl_or.
4. 43NCoemrejeeidraass ceemrefjleoirr.as ornamentais, que no japão são mais de 600

e4sNpéocmiees.das cerejeiras ornamentais, que no Japão são mais de 600
espécies.

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Ana Maria Carvalho

pétalas nascem e caem num eterno renovar.
Impensável colher uma flor ou apanhar as
pétalas que cobrem a beira do canal, como
um manto branco, na defloração.

Regressando vagarosamente a casa
Miwa entra na Sukiya5 habitual e pede
maquinalmente um matcha6 acompanhado
de um mochi7. Revigorante! Sentada em
Seiza8, desfruta o aroma e sabor do chá e
doçaria. Ouve um frufru, as pálpebras
recolhem: as mãos afloram!

5. _5 _C_a_sa__d_e_c_h_á_o_n_de se prepara a cerimónia do chá.

6.

56CCahsáavdeerdceháemonpdeó.se prepara a cerimónia do chá.
67 CBohláovjearpdoeneêms fpeóit.o de uma pasta de arroz no exterior. No interior
7pBodoelohjaavpeornfêasrfinehitao de fuemijãaop,agsrtãaod…e.arroz no exterior. No interior pode
h8aTvreardfiçaãrionhda dmeafneeijiãrao,dgerãsoe…ntar formal dos japoneses.
8 Tradição da maneira de sentar formal dos japoneses.

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Sonhos Anexados

IV

– Quando viestes? Não entendo porque não
me disseste nada?
– Queria sentir a chegada a este país sem um
abraço sem um sorriso sem uma mão. Sem
falar uma palavra de japonês consegui
alcançar-te. As tuas descrições deste passeio
e a exatidão das horas de chegada e partida
do mesmo permitiram esta surpresa.
– Agora queres o meu abraço? Fusão e
emoção neste reencontro sonhado. – Conta

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Ana Maria Carvalho

como conseguiste fugir daquela tragédia?
Está tudo bloqueado!

– Já me sinto em casa Miwa. O descalçar dos
sapatos no Genkan9 retirou-me a
insegurança da mudança. A tua Minka é
verdadeiramente um ninho de ternura.

– Como a temperatura está amena podemos
jantar no Engawa.

– Sim, e o que vamos preparar?

– Um caldo de sobá10 com legumes e
tempuras de legumes. Temos de ficar
despertas. Eu para ouvir o teu relato, Boya,
tu para não partires nos braços do Morfeu.

– Andava a passear pelo trilho das vinhas
quando sou abordada por uma mulher

7. 9_Á_re_a__d_e_e_n_tr_a_d_a_tradicional para casas e prédios japoneses
8. c1dc9r0oeeoMntvniesrÁsatatrisrritesteuuotadíiísdrdeaasaratddrdpoeieegastouuosmmassee.pnaaratrrvtvaaoaadcsrreaa.annnoddt.aar,a,odouiucuiuommnaaalssaalapla,a,crcaoomcmausuamms etatpappreéteedtieoonsodnjaedpseoesndeeesvees

10 Massa de trigo serraceno.

20

Sonhos Anexados

madura, linda. Um sorriso que te capta ao
primeiro olhar. Convidou-me a conhecer a
sua égua Felisberta e aproveitei um passeio
equestre que me tonificou o ventre. Quando
cheguei, a Lara tinha tomado uma decisão.
Na altura não averiguei qual. Mas ao chegar
a casa, ao crepúsculo, aquela frase “tomei
uma decisão” perseguia-me. Como a
encontrar? No dia seguinte pespego-me à
porta do centro hípico. Oiço o relinchar da
Felisberta. Quando já estava a perder a
última gota de paciência, ouço uns passos, a
Lara que me vislumbrara antes, aproxima-se.
– Que bons olhos a vejam! Quer mais um
passeio com a Felisberta?
– Não.
– Ah! – Ligeiro enrugar de testa de Lara. –
Acho que adivinho ao que veio. O seu último

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Ana Maria Carvalho

olhar desenhava a interrogação: que decisão
terá ela tomado? Estou errada?

– Acertou no alvo! Quer partilhar?

– Se receia quebrar fantasmas e interditos
melhor é ficarmos por aqui. Se quer ousar de
imprudência e desvario então
comparticipo… Não vou continuar reclusa.
Estou a preparar a minha escapatória. Só a
descubro se me garante que me segue e
confia plenamente no meu plano. Sem esse
compromisso pode voltar por onde veio.

– Mas como é possível eu dizer que sim a um
projeto que me é totalmente oculto? Sou
ousada e destemida, mas entregar-me a uma
desconhecida!

– Vou para o sol nascente. 11.156 km nos
separam. Este projeto nasceu há muito
dentro de mim. Assim, fui aprendendo a
construir um disco voador. Tenho um hangar

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Sonhos Anexados

onde laboriosamente peça a peça, a máquina
voadora se tornou realidade. Funciona com
energia solar e é anfíbia. À velocidade de
100 km/h dá 112 horas de voo o que equivale
a mais ou menos 5 dias. Ele está
aprovisionado com os bens essenciais para 7
dias. Piloto automático na descolagem -
aterragem e durante a travessia basta
controlar os painéis. Se algo se avariar
haverá indicação, improvisamos a ação.
Colocamos o Teru teru bouzu.
– De que se trata?
– No Japão ata-se à janela uma pequena
boneca de trapos na véspera de um passeio
pedestre para que o sol esteja presente.
Assim estaremos protegidas de ventos,
trovoadas, chuva, maus olhados…
– Mas porquê o Japão?

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– Os portugueses foram os primeiros
europeus a chegar ao arquipélago em 1543
expulsos entre 1637 e 1641. Denominados
Nanman “bárbaros do Sul”. Um registo
japonês contemporâneo relata:

"Comem com seus dedos, em vez de
usarem os pauzinhos, como nós.
Manifestam seus sentimentos, sem
qualquer autocontrole. São incapazes
de entender a nossa escrita."

Fascinante, pois, no auge da influência
portuguesa, terão existido mais de
quatrocentas palavras portuguesas na língua
japonesa: iesu -jesus; botan-botão; kapitan-
capitão; koppu-copo: shabon-sabão;
shurasuku-churrasco; shoro-choro; onbu-
ombro...

– Sim, mas não entendo o teu fascínio: Como
vais comunicar com os nativos?

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– Iniciei a aprendizagem há muitos anos. No
início pensei tarefa impossível. Mas ao fim
de alguns meses comecei a entender o pensar
deste povo através da estrutura da língua.
Não há masculino nem feminino. Plural ou
singular. Ao falarmos com uma pessoa mais
velha, usamos um vocabulário diferente do
que se conversamos com alguém mais novo.
A sociedade é hierarquizada na fala e na
maneira de viver. Um grande respeito pelo
outro e um sentido de comunidade muito
forte. A natureza funde-se no corpo e na
alma das gentes.

Aconteceu-me algo de muito curioso há
anos. Atravessava uma fase de vida com
muitas dúvidas, medos, inseguranças.
Confiei-me a um carpinteiro esotérico.
Revelou-me que numa vida passada vivi em
Osaka! Era parteira. Quando tive esta

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revelação já tinha começado a apreender o
Japonês.
– O nosso encontro foi tão inesperado e
fugaz que nem lhe falei do teu desafio,
aquando da apresentação do teu livro de
poemas em Lisboa.
– Nada acontece por acaso!

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EPÍLOGO

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Lara chega exausta a Tokyo. Os 13
milhões de habitantes desta metrópole, são
formigas silenciosas e obedientes. Não
colidem, não empurram, não apertam, não
gritam! Tudo deslisa. Estende o pedaço de
papel – すみません, きょと えきわ どこ
ですか: por favor, onde fica a estação de
comboios para Kyoto?

Sentada no conforto acolchoado,
banhada pela luz tamisada da persiana,
deixa-se embalar pelo ronronar.

Desperta, na sombria verdura fresca
ondulando ao sabor do vento, que passeia no
bambuzal da floresta, em Arashiyama11.

9. 1_1 _F_lo_r_es_t_a_d_e_b_a_m_bu em Kioto, venerada por todos os Japoneses.

10.

11 Floresta de bambu em Kioto, venerada por todos os japoneses.

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Bambus, seres onde: a fragilidade é
aparente, flexíveis na humildade, vida
comunitária, recomeçam após a adversidade,
sabedoria no vazio, crescem esguios,
simplicidade na utilidade. Os colmos ocos
alojam, deuses!

– Vozes? O riso de Zeus! Simples
elucubração. Ignoro, prossigo aflorando,
acariciando os nós horizontais da irmandade.
Tloctloctloctloc oc…

– Atempadamente desaguas. Enlaça-me. As
minhas raízes nos teus pés. Sentes?

Sem resistência sobem de mansinho.
Delicadamente preenchem os meus
capilares, ventre, coração, braços, nuca,
mente, memórias. Neste perene refúgio,
delineio o sonho de Boya. Ao acaso e sem
acaso vagueia não longe? A terceira versão,
Miwa, acolheu-a? Bam-boo, Bam-boo,

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Bam-boo: sons explosivos, interrompem as
minhas conjeturas!
– Oiço – Este balanço enjoa e adormece-me.
E tu Miwa?

Moldo-me em ti
Aconchego nas entranhas

Reencarno-te
Desabrocha a vida
Doméstica ad aeternum

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